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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A pressa nos tempos da escola

Quem já leu alguns posts passados sabem que eu sou inspetor de alunos. Nessas últimas semanas estou correndo contra o tempo junto com as coordenadoras da escola para que todos os alunos façam o Simulado do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). A quantidade de pessoas para abranger é um dos fatores que demandam tempo para a realização desse trabalho, mas um fator é o que mais gasta tempo e paciência: ensinar os alunos a se logarem no site do Simulado.

O grande desafio na hora de ensinar não é o aluno entender ou não, e sim a paciência dele em te ouvir de verdade. Ele até fica quieto, mas você termina de explicar e ele pergunta exatamente aquilo que você ensinou. Por exemplo:

Eu:
- Pessoal, eu dei pra cada um de vocês uma sequencia de números com esse mesmo formato que está na lousa.

Lousa:
- 12345678-9

Eu:
- Os números que estiverem antes desse tracinho vcs usam para se logarem agora.

Aluno:
- Tá, mas quais números eu devo colocar?

Eu:
- Olha o número que eu te dei. Não tem um tracinho igual a esse da lousa?

Lousa:
- 12345678-9

Aluno:
- Ahn.

Eu:
- Então, esses números antes desse tracinho (mostro no papel do aluno) você tem que colocar nesse lugar aqui. (Mostro da tela do computador.)

Aluno:
- Ai! Não entendi nada. Que número eu tenho que colocar aqui mesmo?! Como eu vou colocar a senha se eu nunca entrei?! Nossa! Que difícil!

Calcula mais ou menos o tempo que eu tive que gastar pra fazer esse sujeito entender o que era pra fazer. Agora, pense que eu tive que fazer essa mesma explicação e um pouco mais para outros 10 alunos ou mais! Isso sem falar nas vezes que você tem que prometer chamar a Coordenação caso eles não fechem a boca e façam logo o Simulado.

Com esse breve relato eu quero destacar que o problema aqui não é a burrice dos jovens, pois burros eles não são. O problema é a paciência em ouvir que falta pra eles. Eles não querem resolver usando o método que você está ensinando. Eles querem que você faça por eles, ou que o jeito deles funcione. Se não funciona, ao invés de ter calma e ouvir melhor já concluem que aquilo é superdifícil e impossível de realizar e que não tem paciência para essas coisas e deixa eu abrir o WhatsApp e o Facebook para eu conversar com os meus amigos que eu ganho mais e é muito mais fácil e bem menos complicados que toda essa burocracia que nos obrigam a fazer e não sei por que ficam inventando essas coisas pra gente fazer e bla bla blá! (A falta de vírgulas foi proposital) Haja nervos e jogo de cintura para lidar com a geração "um clique, tudo certo".

O problema detectei, mas sei que não adianta reclamar do desafio e não pensar num jeito de resolvê-lo. Percebi, num dos grupos que atendi, que a ajuda de duas alunas que entenderam como funciona o processo agilizou o atendimento. Elas se solidarizaram e tomaram a iniciativa em ajudar os amigos que não entendiam. Diante dessa observação, chamarei um grupo de alunos e explicarei como de costume. Sem eles perceberem eu farei um teste e descobrirei quem se encaixará no perfil que eu preciso. Será um, no máximo dois alunos, que pedirei para me ajudar. Quem ensina, aprende; então posso dizer que essa ajuda tem um fim pedagógico.

Moral da história: ensinem os jovens a serem mais pacientes. Essa falta de paciência atrapalha eles e as pessoas em volta deles. Eu dei um exemplo do meu local de trabalho, mas nas estradas, por exemplo, as pessoas andam muito apressadas e sem paciência também. Daí um acidente acontece por excesso de velocidade e 100km de pessoas são obrigadas a esperar sem necessidade no trânsito JUNTO com o apressado. Você pode até insistir em ser o ninguém-manda-em-mim, que tá nem aí, mas sua vida não será mais simples por conta da sua teimosia.

O apressado come cru, come fruta verde, e faz a vida passar mais rápido. Engraçado: a vida é curta...